'A Menina Silenciosa' : longa irlandês indicado ao Oscar é uma pérola sobre o descobrimento do afeto na infância | 2022

NOTA 9.5

Por Eduardo Machado @históriadecinema

O cinéfilo mais experiente, na hora de escolher o título que vai assistir, costuma, antes de ver o elenco que integra o filme ou mesmo a sinopse do longa, olhar o nome do diretor da produção. Porque é ele quem, por conceito, guiará a narrativa. Nem mesmo os melhores roteiros e elencos são capazes de superar um mau diretor. Nesse caso, é comum pensarmos em obras-primas de diretores experientes como Scorsese, Tarantino e Spielberg, que, se algum dia cometeram equívocos, hoje a experiência ajuda o talento. Sendo assim, o que esperar de um diretor estreante, de um filme irlandês de baixo orçamento, cujo idioma, ainda por cima, é irlandês gaélico? Bom, quando não se espera nada, é que recebemos tudo, pois “A Menina Silenciosa”, do diretor Colm Bairead e indicado ao Oscar de melhor filme internacional, é um dos melhores da atual temporada de premiações. 

O filme se passa no início dos anos 1980, época em que Cait (Catherine Clinch), uma garota de sete ou oito anos, passa dificuldades com a sua família de origem pobre em uma área rural na Irlanda. A falta de afeto dentro de casa com relação a ela é notável. Porém, como criticar quando até a comida é escassa? Quando a mãe de Cait engravida novamente, a situação fica mais crítica e a solução paliativa é que a menina passe um tempo com parentes.

Cait, então, é recebida por Eibhlin (Carrie Crowley) e Sean (Andrew Bennett), um casal solitário e sem filhos, que cuidará dela no verão. É nesse momento que entra todo o talento do diretor Colm Bairead, que nem de longe parece um estreante. Ele consegue conduzir um ar de mistério e, ao mesmo tempo, de sinceridade na relação entre o casal e a menina que é das coisas mais bonitas vistas recentemente.

O que podemos sentir é que, pela primeira vez, em sua curta experiência de vida, Cait pode perceber que alguém está cuidando dela, pode sentir o afeto e nós, como espectadores, conseguimos ver o quão transformadoras coisas simples como um banho quente, uma escova de cabelo ou uma brincadeira qualquer podem ser. Tudo parece mágico, por mais simples que seja, quando não se há referência de carinho pregressa. No mesmo passo, Cait não deixa de transformar a vida de Eibhlin e Sean, os quais, a despeito de um passado de perdas e de culpa, percebem que ainda são capazes de amar e, quem diria, ser amados.

Em “A Menina Silenciosa” aprendemos que o silêncio tem seus motivos e, muitas vezes, é mesmo a saída mais inteligente. Como Sean certa vez diz a Cait em uma das cenas mais marcantes do filme: “Muitas pessoas perdem a oportunidade de não dizer nada”. Uma regra de ouro dita em filme que, de fato, é uma verdadeira jóia.