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'Batem à Porta' : novo longa de M. Night Shyamalan retorna à temática “fim do mundo” em surpreendente performance de Dave Bautista | 2023

NOTA 7.0 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

M. Night Shyamalan é, sem dúvida, um dos diretores em atividade que mais divide opiniões. Entre declarações exageradas de amor incondicional e de ódio gratuito, a polarização que gira em torno do cineasta não ajuda em nada, muito pelo contrário, só atrapalha. A trajetória do autor é complexa, possivelmente com seus melhores momentos na primeira década de carreira, entretanto uma análise apaixonada, seja de qual período for, é no mínimo problemática. Embora sutileza não seja o forte de Shyamalan, é inegável que ele é muito habilidoso em contar histórias e de inserir nelas um subtexto reflexivo e dotado de críticas sociais relevantes. ‘Batem à Porta’ é a síntese desse caminho percorrido por ele até aqui. Longe de ser um consenso tanto na crítica quanto no público, o longa tem nuances que necessitam certo distanciamento e, apesar de ser obvio que não existe opinião “neutra” em nenhum aspecto, é igualmente obvio que a racionalidade pura e simples não dá conta da complexidade que é a arte. Talvez um olhar menos intenso para qualquer um dos lados ajude, não a entender (a compreensão é secundária), mas a melhor nos conectar com a obra, afinal, se tem uma coisa que esse novo filme exige é imersão.  

A trama se passa em uma cabana remota, onde uma jovem e seus pais são feitos reféns por quatro estranhos que exigem que a família faça uma escolha para evitar o apocalipse.  

A sinopse não poderia ser mais vaga, porém por uma boa razão. Qualquer informação adicional corre o risco de entregar mais do que o necessário. Esse cuidado é particularmente maior em se tratando de ‘Batem à Porta’ pois a premissa basicamente se pauta na dúvida. Na construção da narrativa, a incógnita gerada à partir do absurdo nos argumentos é o principal elemento na construção do suspense, de modo que nós, enquanto expectadores, temos a exata quantidade de informações das vítimas, ou seja, a forma com que se dá os desdobramentos facilita nossa afeição para com os personagens, com o adicional de, eventualmente, nos aproximarmos também dos invasores. Todo esse mérito é proveniente do incrível controle que Shyamalan tem com a câmera na mão.   

Contudo, se na atmosfera ele é certeiro, no desenvolvimento dos personagens, nem tanto. Exceto por dois destaques: a pequena Kristen Cui e o grandalhão Dave Bautista. A cena de abertura é protagonizada por eles e é provavelmente a melhor e mais bonita de todo o longa. Kristen tem uma interpretação muito rica, com sutis expressões que muito comunicam seu estado de espírito, já Bautista mostra uma surpreendente capacidade dramática, com condutas que subvertem qualquer ideia pré-concebida devido seu porte físico. Daqueles que migraram da WWE, incluindo o popular The Rock, definitivamente Bautista está um nível acima e precisa ser levado mais a sério. As demais atuações deixam a desejar, não por culpa dos atores e sim pela falta de camadas desses personagens secundários. A começar pelo casal onde um deles possui comportamento mais contido e o outro, o exato oposto. Essa discrepância é justificada através de flashbacks, que mesmo bem colocados, apenas arranham a superfície. Quanto aos outros companheiros de Bautista, assim como o casal residente, são figuras de uma nota só.  

Após os dois primeiros atos intrigantes e de ritmo fluido, a conclusão pode decepcionar ao desviar a atenção das imagens para um seguimento mais verborrágico. Os diálogos passam a ser mais expositivos e o didatismo com que as explicações são dadas destoam especialmente da primeira metade onde as peças do quebra-cabeça eram montadas com mais cadência. Como é de costume na filmografia de Shyamalan, existe uma mensagem que vai além da superfície. O contexto e maiores detalhes desse recado beiram a zona de spoilers, mas basta dizer que para muitos será o que ‘Batem à Porta’ tem de melhor e, de fato, sem abrir muito para interpretação, o alerta é direto e o saldo um bocado pessimista. Em suma, controladas as expectativas, as chances de desfrutar de boas duas horas de entretenimento são bem maiores. Vá de coração aberto.  





  

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