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'Pearl' : longa aborda as origens da antagonista de ‘X’ em grande atuação de Mia Goth | 2023

NOTA 9.0 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

Sequências costumam vir carregadas de desconfiança, principalmente quando confirmadas após um sucesso de bilheteria. Isso porque a criação de franquias costuma se pautar na lógica do lucro e, quase sempre, sem muito cuidado com o material base. Não é à toa que na maioria das mais longevas, os criadores se afastam e em alguns casos até repudiam as obras derivadas. Gravado simultaneamente com ‘X - A Marca da Morte’, ‘Pearl’, se esquiva dessa tradição da melhor maneira possível. O primeiro mérito vem do fato desta continuidade se desvincular da estética e da temática do anterior, ou seja, não pega carona no que o antecessor deu certo criando, portanto, uma identidade própria. Entretanto, é evidente que os dois longas estão ligados, mas a cola que os une é a segunda (e maior) virtude da obra. Como o próprio título anuncia, a nova trama é inteiramente focada na antagonista Pearl e não em meia dúzia de potenciais vítimas (a maioria, desinteressantes), e se em ‘X’ essa aterradora senhora de aparência inocente fez o que fez, espere até vê-la mais jovem. 


Ambientado nos EUA dos anos 10, época da gripe Espanhola e da Primeira Guerra Mundial, acompanhamos Pearl e sua rotina na fazenda da família no interior do Texas. Em meio as obrigações domésticas, que incluem cuidar do pai doente, e sob a constante vigilância de sua amarga e autoritária mãe, a jovem sonha com uma vida de fama cheia de glamour. Após anos de opressão e rejeição, um evento trágico desencadeia terríveis acontecimentos, fazendo a busca por seu sonho se tornar o pior dos pesadelos.   

Com Ti West retornando à frente na direção, ‘Pearl’ possui o que uma história de origem tem de melhor: um excelente estudo de personagem e, por consequência, a atenção voltada exclusivamente a talentosíssima Mia Goth, que aqui também é co-roterista. O longa é carregado de referências no mínimo inusitadas, como a paleta de cores emulando o Technicolor e sugestões visuais que remetem ao clássico ‘O Mágico de Oz’ (1939), o que é curioso, pois esses dois elementos evocam a Hollywood clássica, uma época em que o cinema americano era majoritariamente conservador e em alguns aspectos até pueril. ‘Pearl’ se apropria disso para de maneira brilhante subverter a lógica visual e à partir dela abordar temas que vão da repressão sexual ao fanatismo religioso. O filme também contrasta essa “estética da beleza” ao contrapor as imagens ricas em cores saturadas nas tomadas externas e com tons mais frios nas internas, com especial atenção no uso de sombras, algo que reflete o interior dos habitantes daquela fazenda de aspecto tão comum, quando vista de fora.   

Muito se falou sobre a possibilidade de Mia Goth ser lembrada com uma nomeação ao Oscar de melhor atriz, todavia, para quem acompanha a premiação há algum tempo a esnobada não foi uma surpresa dado o preconceito da academia com os filmes do gênero. Contudo, ainda que previsível, o não reconhecimento é frustrante. Assim como nas recentes atuações de Toni Collette em ‘Hereditário’ (2018) e Lupita Nyong'o em ‘Nós’ (2019), Mia Goth em ‘Pearl’, entrega material suficiente para figurar entre as melhores do ano. Apenas a título de exemplo, temos uma sequência musical cuja coreografia é da própria atriz, um monólogo insano de 8 minutos em plano sequência e, já na última cena, um dos sorrisos mais perturbadores do terror.   

‘Pearl’, apesar de retratar acontecimentos anteriores ao primeiro longa, prepara terreno e eleva as expectativas para a próxima entrada na franquia. As personagens Maxine e Pearl tem premissas que dialogam, mas esse espelhamento ainda carece de peças fundamentais. A A24 já anunciou o terceiro capítulo que encerrará a jornada. O filme tem o título ‘MaXXXine’ e vai se passar na década de 80, em Hollywood. A nova musa do terror está confirmada e só nos resta aguardar o próximo show.   






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