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'Poropopó' : filme usa a leveza da arte circense para tratar de dramas da vida real | 2023

NOTA 6.5

Por Karina Massud @cinemassud 

A família Dandelion é uma família peculiar: eles são imigrantes russos circenses, mais especificamente palhaços que vivem de sua arte viajando com o seu circo de cidade em cidade. Um dia decidem fixar residência em uma cidadezinha do interior e tem que enfrentar os desafios da adaptação. Eles saem do picadeiro mas o picadeiro jamais sai deles, que continuam sendo palhaços no quotidiano, o que causa estranheza a princípio mas logo em seguida a reflexão: quem estaria vivendo num mundo surreal de ficção, os palhaços ou os não-palhaços?

Com suas palhacices, os Dandelions causam uma revolução cultural na cidade, levando arte à praça com uma banda de rock, uma minibiblioteca e uma peça circense que agita toda a população, desde as crianças, idosos, donas-de-casa, até os funcionários públicos e o mendigo da cidade. Como os palhaços não perderam sua essência, eles enxergam a realidade do seu ponto de vista e com isso fazem aflorar o lado lúdico dos moradores, afinal, os problemas podem ser resolvidos sob uma perspectiva mais leve.

Através da repressão policial que quer acabar com o lindo centro cultural, cria-se uma analogia com a situação vivida pela nossa cultura, jogada às traças e relegada ao limbo por um governo extremista e desmantelador de qualquer tipo de iniciativa na área. A canção que dá nome ao filme, “Poropopó”, tem um único acorde na melodia porém é uma poderosa canção de resistência, nos remetendo à “Bella Ciao”, o hino da libertação da Itália das garras do fascismo. No entanto essa crítica para por aqui sem se aprofundar nas origens desses desgovernos, que só estão no poder porque foram eleitos por um povo carente de educação política.

Não há texto no longa, mas nem é preciso, pois a linguagem gestual dos palhaços e os efeitos sonoros transmitem tudo o que é preciso para que o espectador os entenda.  O gromelô (espécie de dialeto teatral usado para imitar idiomas), aliado aos figurinos e maquiagens circenses, com muita cor, babados e os enormes sapatos de palhaço, fazem com que a atmosfera seja de contos de fadas. Essa mistura da linguagem circense com a cinematográfica produz uma experiência que cativa até a metade do longa, mas depois se torna repetitiva e cansa um pouco o espectador.  

“Poropopó” é o primeiro filme dirigido pelo artista circense Luís Antônio Igreja. Um longa simples mas com uma estética adorável e com a bela mensagem de união entre pessoas bem diferentes em prol das manifestações artísticas.





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