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'Rio Doce' : filme de estreia do diretor Fellipe Fernandes é drama potente sobre se redescobrir | 2023

NOTA 8.0 

Por Rogério Machado 

É a experiência do recifense Fellipe Fernandes como assistente de direção ao lado de nomes como Kleber Mendonça Filho ('Aquarius' - 2016 e 'Bacurau' - 2018) que faz com que o cineasta chegue a um resultado tão potente e maduro em sua primeira realização solo em se tratando de um longa metragem. 'Rio Doce', que chega essa semana aos cinemas, é um conjunto de experimentações que deram muito certo em obras que já vimos antes no cinema nacional, que tem identidade suficiente para notarmos traços autorais, e que ao mesmo tempo andam em harmonia com essas produções acima citadas - que conjugam temas altamente políticos mas com altas doses de afeto. 

Na história o rapper Okado do Canal dá vida  a Tiago, um jovem que mora em Rio Doce, periferia de Olinda, e leva uma vida com alguma dificuldade. Ele trabalha muito e mal tem tempo para exercer a função de pai com sua pequena filha, fruto de um casamento que já chegou ao fim. Certo dia, por uma foto junto de uma carta, ele descobre a identidade de seu próprio pai, ausente em toda sua vida, quando é procurado por uma de suas meias-irmãs que também lhe conta que o homem morreu. A partir dessa descoberta, a vida desse rapaz se transforma e ele passa a questionar sobre seu passado e sobra sua identidade. 

Tiago é fruto de um caso de sua mãe, uma mulher negra e simples, com esse homem, que àquela época já tinha outra família e não podia (ou não queria) assumi-lo. Nesse primeiro encontro do rapaz com a família recém descoberta nota-se a diferença de sua criação com suas irmãs: ele um rapaz de periferia e todas as outras irmãs com algum nível e vivendo numa casa  de classe média.  Os ares de desigualdade são nítidos e é impossível não notar o desconforto de Tiago com sua nova família branca. 

O longa de estreia de Fernandes ostenta a maturidade de grandes realizadores; em alguns momentos 'Rio Doce' me remete à obras unânimes  como 'O Som ao Redor' (também de Kleber Mendonça Filho), muito pelo modo como escolhe detalhes que podem parecer desimportantes mas que ao fim, só fortalecem a jornada do protagonista. 'Rio Doce', que foi o grande destaque do Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba e eleito também Melhor Filme da Mostra Novos Rumos no Festival do Rio em 2021, nos conta sobre o redescobrimento de uma nova vida, e toca, ainda que em doses discretas, no racismo estrutural que está entranhado na sociedade, principalmente nos núcleos de classe média, não só nas grandes cidades como também no interior do país. 







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