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'EO' : longa polonês indicado ao Oscar estreia no Brasil após sucesso de crítica | 2023

NOTA 8.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

Escrito e dirigido pelo veterano Jerzy Skolimowski, vencedor do Prêmio do Juri em Cannes 2022 e representante da Polônia no Oscar desse ano, ‘EO’ é inspirado no clássico de Robert Bresson “A Grande Testemunha” (1966), para muitos o melhor do respeitado diretor francês. Contudo, a versão polonesa opta por se desvincular da abordagem ascética de Bresson e nos apresenta uma visão realista e aterradora da animalesca natureza humana. 

A trama é simples, porém essa simplicidade está no fato do diretor retirar da estrutura narrativa qualquer artifício hermético ou enigmático. O filme até propõe alegorias e é riquíssimo em simbologia, mas tudo isso é secundário. Muito embora em alguma medida o longa tenha uma pegada experimental, a criação de vínculo e a empatia para com o animal ocorre naturalmente, grande parte graças a enquadramentos que evidenciam os intensos e vultuosos olhos do protagonista, além da câmera subjetiva em que acompanhamos os eventos a partir do olhar de EO, facilitando, portanto, a proximidade e o envolvimento. Entretanto a suavidade está apenas na forma com que Skolimowski nos expõe aos acontecimentos, já sobre conteúdo pode-se dizer muitas coisas, exceto que ele é fácil.  

Durante cerca de 1h30m vivenciamos dramas nas mais variadas situações, a maioria delas de tensão e perigo iminente, todavia bem equilibradas com pausas necessárias em que é possível respirar aliviado. A sensibilidade impressa pelo cineasta polonês o distancia de outros nomes do cinema europeu como Michael Haneke, Gaspar Noé e Lars Von Trier, notórios pela visceralidade de suas obras. Não que o longa poupe o expectador de cenas mais pesadas, mas em nenhuma delas é criado um espetáculo em torno ou mostradas de maneira gratuita. 

No sentido estritamente cinematográfico, ‘EO’ é extremamente expressivo e organiza como poucos a dinâmica entre som e silêncio. Os diálogos são escassos e a subjetividade dos personagens humanos é pouco explorada, deixando as poucas passagens de interação entre eles abertas a interpretação. Também são poucos elementos que dariam mais contexto à problemática de cada um, o que é coerente com a proposta central, afinal, o filme não é sobre eles. 

Talvez com algum tempo de projeção a trama soe episódica e não seria forçado dizer que como subgênero ele se alinha muito a um road-movie tradicional, todavia, é interessante que ao percorrer os mais diferentes locais, o filme desmistifica a ideia de uma Europa homogênea. Rico não só em diferentes cenários, conhecemos pessoas de diferentes fenótipos, temperamentos e realidades, tornando o conto desse pobre e inocente personagem, um pouco sobre nós mesmos. 





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