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'O Nascimento do Mal' : terror aborda traumas e maternidade com grande atuação de Melissa Barrera | 2023

NOTA 7.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

O cinema cria tendências, e no horror, desde o sucesso de ‘Invocação do Mal’ em 2013, temos visto um “boom” de produções que abordam o sobrenatural, sobretudo os que referenciam o maligno mais diretamente.  Isso se reflete também nos títulos e suas traduções para o português. É comum palavras como Diabo, Mal, Demônio, Exorcismo, Trevas, Sagrado, entre outras. São claras tentativas de chamar a atenção, entretanto em muitos dos casos essa chamada não condiz com a premissa, como no mais recente ‘O Nascimento do Mal’, cujo título original é “Bed Rest”, que significa basicamente Repouso. Tudo bem que a tradução ao pé da letra tem pouquíssimo apelo comercial, mas seria interessante, pra variar, que ao substituir o original, o responsável em questão pelo menos assistisse ao filme. A ideia parece vender um novo “O Bebê de Rosemary”, porém o longa de Lori Evans Taylor está bem longe disso. 

Na trama acompanhamos Julie (Melissa Barrera) que tendo vivido um trauma no passado, encontra uma nova chance de recomeço ao lado do marido, Daniel (Guy Burnet). Depois de mudar para a casa dos seus sonhos e estar se preparando para dar à luz em poucas semanas, a paz é interrompida quando um acidente doméstico impõe um rígido repouso até o parto. Entediada e tentando lidar com os cuidados necessários, ela passa a ter visões e experenciar acontecimentos que colocam em risco a gravidez e sua saúde mental. 

A mexicana Melissa Barrera assume o protagonismo e assim como em “Pânico 5 e Pânico 6, não decepciona. Ainda jovem, com 32 anos, a atriz preserva uma performance forte, mesmo quando a inocência de suas feições apontam para o contrário, algo semelhante aos primeiros anos de Neve Campbell, atriz da qual Melissa herda o papel principal na franquia de sucesso. Em “O Nascimento do Mal” ela tem um destaque ainda maior. Apesar de boas cenas em que contracena com Guy Burnet, muito importantes para conhecermos o passado do casal e dar contexto ao que vem a seguir, são nos momentos de solidão e isolamento os pontos altos do longa. Estranhamento, medo, desespero, dúvida. É notável como ela imprime bem todas essas sensações sem maneirismos, mostrando maturidade e consistência.  

Como era de se esperar, é evidente que muito dos clichês estão presentes: reflexo no espelho, armário entreaberto emitindo sons, objetos que se movem sozinhos, estranhas manchas que aparecem e desaparecem pela casa, etc. Porém, se é clichê, funciona! Se bem-feito, claro. Esses eventos ajudam a contar a história, não são meras repetições. Até mesmo os sustos, que na média do gênero são telegrafados e previsíveis, aqui são eficientes e têm a dose certa. 

Todavia, nem tudo são flores. A montagem tem um dinamismo que em diversas ocasiões corta em momentos de elevação na tensão. Geralmente essa é uma sensação que demanda tempo até alcançar o estágio de ansiedade, mas o longa renuncia a isso optando por sucessivas injeções de adrenalina seguida de pausas abruptas. O mistério e o suspense parecem não dialogar muito bem, fazendo com que a diretora dê respostas ao longo da rodagem de modo que só assim consiga trabalhar o suspense. Com isso algumas pistas falsas são plantadas, a maioria sem muito impacto, em parte também pela já citada montagem apressada. É curioso como a reclamação geral atualmente seja a longa duração dos filmes, mas esse é um dos raros casos em que 20 minutos a mais cairiam muito bem. O fechamento destoa bastante de todo o resto, e o que até os 15 minutos finais tinha de especial é deixado de lado em um desfecho covarde que vai na direção do lugar comum, morno e anticlimático. 

Infelizmente “O Nascimento do Mal” não deve alcançar o público que merece. A distribuição é ruim e o marketing pior ainda. Também não é memorável, e a chance de nem lembrarmos dele daqui uma semana é bem grande, mas além de entreter, trata-se de mais uma página do que, ao que tudo indica, será a frutífera e bem-sucedida trajetória de Melissa Barrera. Que Hollywood saiba reconhecer, afinal, talento não lhe falta. 






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