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'Indiana Jones e a Relíquia do Destino' : filme de James Mangold encerra saga com paixão e saudosismo em tons de elegia | 2023

NOTA 8.0

Isso vai para um museu

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Quanto o mundo pode mudar em quinze anos? De 2008 para cá, isto é, desde o lançamento de 'Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal', vimos a ascensão e a queda de políticos, empresas e empresários; vimos o advento de ideologias e o ressurgimento de ameaças seculares que mudaram drasticamente a vida de milhões de pessoas - ou puseram um fim à elas. Perdemos uma Copa em casa, vimos dúzias de aparelhos se compactarem em um só, experimentamos momentos históricos lamentáveis e fizemos grandes descobertas astronômicas. Quinze anos. Como o mundo mudou! Ainda bem que Indiana Jones, pelo menos, continua o mesmo. Observando quanta coisa aconteceu, confesso que me sinto um tanto mais velho; e o novo filme da saga, 'Indiana Jones e a Relíquia do Destino', fala essencialmente sobre isso; envelhecer e aceitar a passagem do tempo, - e inclusive abraçar a hora de pendurar o chapéu.

O capítulo que encerra a jornada do icônico e mítico personagem vivido por Harrison Ford é dirigido pelo sempre competente James Mangold, que busca aqui emular toda a dinâmica estilística de Steven Spielberg e faz uso de posicionamentos de câmera e jogos de sombras para imprimir a típica áurea de mistério que permeia os filmes do arqueólogo mais famoso do cinema. Contudo, embora se esforce para manter a identidade visual e se dedique a manter presente o espírito aventuresco que é marca registrada dos filmes anteriores, falta uma digital Spielberguiana que torne a fantasia e o místico do roteiro em uma experiência cinematográfica com ares fantásticos. O vilão de Mads Mikkelsen é um retorno ao sempre explorado combate ao nazismo que Hollywood adora abordar - ainda mais nessa franquia -, mas sua ameaça individual não é tão impactante quanto o cargo exige. Existem algumas facilitações e conveniências que, apesar de recorrentes em filmes assim, aqui soam por vezes amplificadas e dão a impressão mais de golpes de sorte dos protagonistas (e vilões também) do que acertos por qualidade e mérito - nada que se compare a um 'Velozes e Furiosos' da vida, mas para os padrões da franquia parecem um abuso à credibilidade que o público dá aos absurdos usuais que Jones enfrenta.

Não tem geladeira voando, não tem cérebro de macaco, e nem tem artefatos sagrados; mas tem paixão pelo personagem, respeito por sua jornada, e principalmente uma autoconsciência latente que dá à obra todo um tom melancólico, como se a elegia fosse sua razão de ser. Como resultado, vemos uma grande homenagem não somente a Harrison Ford, George Lucas, John Williams e a Spielberg, mas também a toda uma geração de filmes de aventura que moldou o cinema como o conhecemos hoje. Reencontros emocionantes e surpresas gratificantes fazem desta última grande viagem não uma ida rumo à ação, mas um retorno àquilo que realmente importa. Essa redescoberta de Indiana é o verdadeiro fio condutor do filme, fazendo de suas curvas emocionais verdadeiras reverências ao passado e, paralelamente, uma contemplação daquilo que poderia ter sido - mas principalmente uma nução quanto ao que realmente é. E sendo o que deve ser, essa despedida de Ford do papel de Indiana se caracteriza como um aceno a toda uma geração de artistas cujo legado há de perdurar por muito tempo quando saírem de cena. Que Indiana seja eterno!





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