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“La Parle”: longa realizado por amigos mergulha nas praias da Nouvelle Vague francesa | 2023

NOTA 4.0 

Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme

É praticamente impossível negar a importância da Nouvelle Vague francesa para a história do cinema. De Wim Wenders a Tarantino, não faltam realizadores (de diferentes nacionalidades e estilos) que, não raro, demonstram tal influência ou até mesmo se rendem ao tributo rasgado. Fruto de uma residência artística de um ano na Les Ateliers du Cinéma, casa criativa de ninguém menos que Claude Lelouch, “La Parle” desemboca nos cinemas brasileiros completamente encharcado da estética que revolucionou a linguagem cinematográfica a partir de meados dos anos 1950.

Filmado inteiramente com o uso de Iphones, esta coprodução franco-brasileira entrelaça ficção e documentário ao “registrar” o encontro de um grupo de amigos na região litorânea que divide a França e o País Basco, local onde, segundo a tradição, uma onda (a tal “la parle” do título) teria o poder de revirar sentimentos e trazer soluções para os problemas. Assim, o espectador experimentará por um pouco mais de uma hora, o decorrer da interação entre Gabriela (a única brasileira), Fanny, Kevin e Simon, durante as férias numa casa na praia e como, aos poucos, o clima de idílio vai abrindo brechas para seus dilemas individuais.

Há um óbvio senso de celebração da juventude no ar. A metalinguagem, o tom das conversas, os inevitáveis flertes, a captura do efêmero em planos que evocam a beleza natural do lugar são apenas alguns dos aspectos que expõem o quanto aquele grupo está embebido de um tipo de fazer cinema que, em muito, lembra as obras de alguns dos maiores herdeiros da Cahiers du Cinema, sobretudo Éric Rohmer (há até um momento “O Raio Verde”!) e Agnès Varda, cujo belíssimo “Le Pointe Courte” parece ter sido base para a tentativa de se promover uma dinâmica de cisão e aproximação entre a rotina num cenário bucólico, seus habitantes e a vivência dos protagonistas.

Contudo, “La Parle” carece de tempo hábil para que os dramas pessoais sejam estabelecidos. O mais grave deles, por exemplo, só ganha mesmo algum impacto para além do falatório nos instantes finais, quando marcas físicas que aparecem de modo sutil deixam no espectador um tsunami de perguntas acerca do quanto de real há naquela exposição.  Além disso, a opção pelo P&B, soa mais como um capricho visual levado adiante pelo simples fato de ser facilmente obtido – afinal, é só mexer nas configurações do celular e voilá – e porque, após um ano estudando com um dos maiores remanescentes daquele movimento cultural, acharam que seria homenagem pra lá de inspirada a toda uma geração revolucionária de autores. Tomaram caldo...







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