'O Pacto' : longa é um drama de guerra sobre gratidão e honradez | 2023
NOTA 9.0
Por Karina Massud @cinemassud
No Afeganistão, assim como em outros países do Oriente Médio, o povo, em sua maioria, não é conivente com as atrocidades do Talibã: homens-bomba, crianças sendo treinadas pra assassinar, atentados e outros horrores cometidos em nome de Allah (Deus). Pelo contrário, os cidadãos de bem são pacíficos e vivem reféns da opressão, sofrendo em silêncio para assegurar seus bens mais preciosos, a família, liberdade e vida. No longa “O Pacto”, o diretor Guy Ritchie evita a abordagem maniqueísta “heróis americanos X vilões talibãs”, dando voz aos afegãos, tão vítimas desse regime quanto o resto do mundo. Esse povo tão sofrido tolerou a permanência dos EUA no Afeganistão porque eles eram um mal necessário; logo após a desocupação americana em 2021, os Talibãs voltaram a dominar a região, expondo ao mundo o fracasso da política americana.
Depois de um hiato de alguns anos sem grandes produções no currículo, o diretor Guy Ritchie voltou com força total com filmes de alta qualidade e poder de entretenimento: “Magnatas do Crime” (2019), “Esquema de Risco – Operação Fortune” (2023) e agora “O Pacto” (2023), que acaba de chegar ao catálogo do Prime Video Brasil.
Jake Gyllenhaal é o Sargento John Kinley, ele está no Afeganistão na Guerra ao Terror iniciada depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, e em uma das operações em busca de terroristas seu batalhão sofre uma emboscada. John é salvo por seu intérprete Ahmed ( Dar Salim), que o carrega por quilômetros numa jornada perigosíssima até serem resgatados, só que ele só se lembra disso depois de retornar como herói aos EUA, decidindo então voltar e retribuir salvando a vida de Ahmed e de sua família das garras dos terroristas.
Os protagonistas são homens abalados emocionalmente: um guiado pela dor da perda e outro pelo ódio étnico, e vivem em situação dúbia, entre olhares que dispensam palavras mas denotam medo e desconfiança. John demora a confiar em Ahmed devido ao seu passado, evidenciando o preconceito e xenofobia contra os povos árabes. Tendo como cenário as lindas paisagens áridas do deserto afegão, eles vão construindo laços eternos nessa luta que é e sempre será injusta para todas as partes.
Guy Ritchie e seus co-roteiristas Ivan Atkinson e Marn Davies entregam um roteiro preciso e denso, um reconhecimento e também um retrato humanista dos muitos heróis anônimos que ajudaram os EUA nessa guerra que não foi tão bem sucedida como se esperava. Muitos intérpretes se salvaram e conseguiram vistos pra morar nos EUA, mas centenas ainda estão lá escondidos e ameaçados pelo Talibã.
“O Pacto” não é um simples filme de guerra, os conflitos são o pano de fundo pra trazer à tona a cultura afegã e valores nobres e atemporais como honra, lealdade e gratidão. O diretor Guy Ritchie habilidosamente saiu do lugar-comum dos filmes bélicos com drama, ação eletrizante e ótimas reflexões. Torço pra que ele continue nos presenteando com mais longas imperdíveis.
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