'O Armário Mágico' : filme paranaense discute o mal do nazismo em formato de fábula | 2023
NOTA 5.0
Por Rogério Machado
Durante a apresentação de 'O Armário Mágico' no Festival de Cinema de Vassouras, que por aqui tem nada menos do que onze indicações ao 'Grão de Ouro', o ator Renato Novaes que dá vida a um mágico polonês, em sua mensagem remota (claro, em tom de ironia) afirma que o longa discute o mal do nazismo, do racismo, e outras coisas terríveis que não vemos mais hoje em dia. Sob uma aura de aventura juvenil o filme nos apresenta esse homem em dois momentos da vida: ambos em períodos nefastos (na primeira e na segunda Guerra Mundial), daqueles que sempre costumamos dizer que devemos nos lembrar para não deixar que se repitam.
'O Armário Mágico' conta a história de dois amigos improváveis: um velho e solitário imigrante polaco, Zygmunt (Novaes), e um menino judeu chamado Milo (Rafael Pereira). Desde que foi deixado por seus pais sob a guarda de Zygmunt, escondido no sótão de uma velha casa em um pequeno vilarejo no Sul do país, esperando pacientemente a volta deles. Lá fora, dias sombrios assolam o mundo durante a Segunda Guerra Mundial e os moradores descendentes de alemães daquele lugar, liderados pelo Padre Schubert (Charles Paraventi) e Heinrich (André Hendges) decidem colocar em prática um hediondo plano de expulsar violentamente todos os judeus dessa vila. O plano é que toda vez que um soldado nazista aparecesse, o menino entraria no armário para se esconder - reza a lenda que esse tal armário tinha o poder de fazer desaparecer, ou mesmo transformar coisas.
Ainda que o material publicitário ou mesmo seu primeiro ato (com uma bela fotografia por sinal) nos leve à um clima de fábula, é importante ressaltar que esse é daqueles projetos (quem se lembra de 'A Vida é Bela'?) onde a maldade do nazismo cruza com adultos protetores e indulgentes que anseiam por manter as crianças longe de todo aquele mal. Contudo, o tom de fábula não se sustenta, e de um filme que poderia ter flertado com a crítica ao regime nazista de modo aventuresco e vibrante, se transforma em uma narrativa fria, sisuda e sem brilho. A fotografia que a princípio parecia ser a cereja do bolo, se torna excessivamente escura, e a trilha sonora em alguns instantes parece estar em desalinho e se sobrepondo aos diálogos.
Ainda que com alguns deslizes técnicos e algumas atuações fora de tom (abro um parêntesis para algumas exceções, sobretudo Renato Novaes, que está gigante em cena) devo confessar que é louvável a coragem de desenvolver a temática em um projeto cinematográfico de formato inédito por aqui. De tudo que temos visto sobre o crescimento de células Neonazistas no sul do país, é sempre pertinente podermos trazer à memória - e que bom que através da arte - receitas desse cardápio indigesto que não gostaríamos de ver de volta no nosso prato.
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