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'Terra Querida' : primeiro longa de Franklin Pires ambienta a saga de uma família em meio à Batalha do Jenipapo | 2023

NOTA 5.0

Por Rogério Machado 

E lá se vão exatos duzentos anos da chamada 'Batalha do Jenipapo'. Aposto que muitos de nós não sabe (ou sabia, assim como eu), mas foi em 1823 que um dos episódios mais marcantes da história da Independência do Brasil aconteceu.  As lutas, ocorridas no Piauí, opuseram brasileiros piauienses, cearenses e maranhenses contra tropas leais a Portugal lideradas pelo Major Fidié. O registro é que pelo menos 200 brasileiros tenham morrido durante os confrontos na cidade de Campo Maior. 

É nesse cenário, que serve de plano de fundo para o longa de estreia do Cineasta Piauiense Franklin Pires e que está na Mostra competitiva na segunda edição do Festival de Cinema de Vassouras, onde conheceremos a família Silva, que é obrigada a se envolver numa guerra pois ela acontecia no quintal de sua casa. É nesse ambiente hostil onde essa família simples se colocará no meio do olho do furacão para matar e morrer afim de defender os seus. 

A família Silva, cujo patriarca é Antônio (Franklin Pires, se dividindo entre direção e atuação), tem mulheres fortes - como estamos acostumados a ver na cultura nordestina - e são elas quem se destacam na narrativa: Kelly Campelo (a matriarca Milagres), Lua de Luzz (Alzira, a primogênita) e Joara Nascimento (Filomena, a filha mais nova) brilham. Sobretudo Lua de Luzz, que encarna a filha mais velha do clã, é quem detém as sequências mais dramáticas e que traduzem de forma visceral o sentimento que é o de defender um território. A oportunidade é dada, e a atriz - que é local e está iniciando carreira -,  aproveita até a última gota a chance que tem.

Em se tratando da parte técnica, é nela onde o filme encontra seu maior desafio, com oscilações na paleta de cores na fotografia de Eduardo Crispim. A edição de som também tem seus percalços, com quebras de ritmo no meio de longas pausas entre os diálogos. Esses problemas enfrentados pelo filme de Pires são compreensíveis quando pensamos na dificuldade em se fazer cinema independente no Brasil: a equipe tinha somente 18 dias pra filmar, e dos 2 milhões de reais prometidos, somente 100 mil entraram em caixa após o vendaval que a pandemia causou na cultura. A coragem do cineasta piauiense é a mesma dessa família que lá do Brasil profundo sabia que não haveria vitória sem perdas. Essa realidade o audiovisual brasileiro conhece bem. 

De toda forma, há que se reverenciar a iniciativa de se realizar um filme com tão pouco e dar voz a uma história que poderia cair no esquecimento não fosse o poder que emana da arte. 






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