'Clonaram Tyrone': Jamie Foxx brilha como cafetão em ficção mirabolante | 2023
NOTA 7.5
Por Karina Massud @cinemassud
O astro Jamie Foxx já encarnou diversos personagens, e sempre com brilhantismo: o cantor Ray Charles (papel que lhe rendeu um Oscar de Melhor Ator), o ex-escravo Django, um músico, um caçador de vampiros contemporâneo, dentre outros. Em “Clonaram Tyrone!” ele dá vida a Slick Charles, um cafetão excêntrico que se gaba de ter ganhado o concurso de “Cafetão do Ano” e que, por ter dívidas com um traficante, acaba se envolvendo numa conspiração governamental de experimentos científicos criminosos.
O filme é a estreia do diretor Juel Taylor, que traz o “blaxploitation” pra uma trama que passeia por gêneros diversos. “Blaxploitation” foi um movimento cinematográfico americano dos anos 70 que exaltava a excelência negra em todas as suas vertentes. “Clonaram Tyrone!” começa como uma comédia ácida com alguns absurdos, quase uma sátira, passando prum thriller investigativo com ótimo suspense e ritmo bastante acelerado. E não para por aí; a ficção científica entra na história com os clones do título e os cientistas mal intencionados com suas experiências de controle da mente. Os costumes da comunidade negra são mostrados de forma exagerada: os cultos na igreja com lindas canções de exaltação, a culinária e a estética em roupas e penteados chamativos.
O trio formado pelo cafetão Slick (Jamie Foxx), sua prostituta Yo-Yo (Teyonah Parris) e o traficante Fontaine (John Boyega) esbanja timing cômico e carisma, protagonizando cenas hilárias de puro besteirol; são eles que investigam as loucuras que acontecem na trama e garantem boa parte do seu atrativo.
A fotografia de Ken Seng (“Deadpool” e “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio”) chama atenção em tons de violeta, azul e rosa; lindamente sombria, ela dá um tom psicodélico nos experimentos mentais que os conspiradores fazem com a comunidade negra, e o labirinto de luzes e espelhos potencializa a tensão das lutas e perseguições. As imagens digitais tem um filtro que dá a granulação dos tempos analógicos ao filme, o adequando à estética setentista do “blaxploitation”.
O roteiro, apesar de criativo é muito complexo, e por isso termina num final confuso que, se não esclarece todos os mistérios da narrativa, não prejudica a experiência divertida que é o filme como um todo. Em meio a tantas informações, o destaque de “Clonaram Tyrone!” é a crítica social. A trama expõe de forma cômica a supremacia branca e o crescimento de governos e sociedades racistas que se acham superiores e no direito de exterminar os “inferiores”, para assim construírem um mundo melhor, apenas na cabeça doentia deles – o riso é fácil, e é de nervoso. A temática antirracista não é novidade mas é sempre muito bem-vinda, pois a realidade do preconceito brutal infelizmente ainda está aí.
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