Adsense Cabeçalho

'As Três Vidas de Frieda Wolff ': documentário narra vida e obra do casal referência para a comunidade judaica no Brasil | 2023

NOTA 8.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica  


No cenário de pequenas e grandes produções, se há um gênero que o Brasil não deixa a desejar a qualquer outro país, é o documentário. Ótimos cineastas brasileiros iniciaram ou migraram suas carreiras para esse tipo de abordagem e muitos com bastante sucesso. O mais célebre deles foi Eduardo Coutinho, com uma vasta filmografia no gênero, além de Jorge Furtado, cuja carreira foi catapultada graças ao premiado “Ilha das Flores”. Nosso último reconhecimento no Oscar também veio através do documentário, com “Democracia em Vertigem” da jovem mineira Petra Costa, e ainda há expectativa para que o feito se repita este ano com “Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho. Diante de tamanho histórico, Pedro Gorski não decepciona e entrega um trabalho à altura. 

Frieda e Egon Wolff formaram um casal ainda na década de 30, mesma época em que, devido a perseguição nazista, se viram obrigados a escapar da Alemanha, vindo a desembarcar no Brasil em fevereiro de 1936. A partir de entrevistas gravadas em 2003, Milton Weintraub, um amigo da família, ajudou a produzir o longa e a compilar uma série de informações a respeito da trajetória do casal. O projeto é dividido em três partes, como prenuncia o título, e foca nas diferentes épocas e desafios que ambos tiveram até se tornarem uma das maiores referências em estudos judaicos no Brasil e no mundo. 

A primeira parte é breve e retrata a juventude de Frieda e Egon. Sabemos como eles se apaixonaram, as aspirações de cada um e alguns hobbies. O foco está na ascensão e atuação dos nazistas naquele tempo e como alguns poucos judeus conseguiram driblar a burocracia e a violência que se instalara. Se trata de um trecho da história extremamente sensível e muito delicado de se conduzir, podendo facilmente assumir um tom sensacionalista e apelativo, porém, sob o olhar atento de Pedro Gorski, isso felizmente não ocorre. Através de imagens de arquivo, narração e relatos, somos levados até a segunda parte, quando o casal chega ao Brasil. A sequência desses eventos é mais dispersa e apresenta lacunas. Sabemos que foram prósperos comerciantes e que Egon atuou como presidente do Hospital Israelita, mas os detalhes de como isso aconteceu fica superficial e carece de maiores esclarecimentos. A terceira e última etapa lança luz naquilo que os alçou à fama, pelo menos dentro da comunidade que faziam parte. Diz respeito a um vastíssimo trabalho de pesquisa sobre o judaísmo e suas raízes no Brasil, trabalho que resultou em dezenas de livros escritos e uma centena de documentos catalogados que hoje estão disponíveis para o público interessado.  

O filme foi exibido na segunda edição do Festival de Vassouras, local que abriga O Memorial Judaico, projeto idealizado por Egon, mas interrompido poucas semanas depois devido sua morte em 1992. O paisagista Roberto Burle Marx e o então prefeito Severino Dias se sensibilizaram com a causa e concluíram a restauração. Um gesto simbólico diante de tempos sombrios que retornam e ganham força. Que os caminhos de Frieda e Egon não só inspire as novas gerações, mas que também as lembrem de uma parte da história que não pode mais se repetir.  




Nenhum comentário