'Paraíso' : ficção discute polêmica fonte da juventude em futuro distópico | 2023
NOTA 7.0
Por Karina Massud @cinemassud
A juventude eterna é um dos grandes objetos de desejo da ciência e da humanidade. Na ficção ela já foi alcançada de várias maneiras: sangue, fluído vital de crianças, microchips ou poções mágicas; no entanto, a transferência dos anos de vida de uma pessoa pra outra no intuito de rejuvenescer é um enredo relativamente novo, usado apenas em “O Preço do Amanhã” (2011).
Em “Paraíso”, ficção alemã passada num futuro distópico, a empresa de biotecnologia AEON desenvolveu essa polêmica “fonte da juventude”, o comércio de anos de vida, numa sociedade onde só os milionários tem acesso a ela pois o valor é alto, quem vende 15 anos, por exemplo, recebe o equivalente a 700 mil euros.
No longa acompanhamos o casal Max e Elena, ele trabalha na AEON e ela é médica. Devido a uma tragédia eles adquirem uma grande dívida que tem como garantia 40 anos de Elena, e a partir daí surgem as consequências nefastas dessa prática além de questionável. “Paraíso” surpreende com essa história cruel, e poderia facilmente ser um ótimo episódio da série de sucesso “Black Mirror”, onde o lado sombrio dos avanços da tecnologia são retratados de forma nua e crua.
Codirigido por Boris Kunz, Tomas Jonsgården e Indre Juskute, o filme aborda muitos assuntos mas peca por não mergulhar a fundo neles, deixando-os pulverizados ao longo da trama. O massacre capitalista que leva a busca por dinheiro a extremos inimagináveis. O dilema vivido por Max, ex-funcionário que comprava anos dos pobres antes de viver o drama da sua mulher, o problema dos refugiados e imigrantes ilegais; e por fim o instinto materno como força motora – todos pontos que teriam dado maior qualidade ao filme se mais aprofundados. Por outro lado, a narrativa expõe muito bem a questão moral sobre cada um dispor do seu corpo como bem entender; os paralelos com a realidade são claros, a vida tem se tornado mercadoria nas mãos dos mal intencionados e influentes.
O tempo sempre foi e sempre será algo valiosíssimo para todos, ricos ou pobres, e não é de se duvidar que um dia ele seja um mero produto à venda em prateleiras. Com os avanços da ciência acontecendo a passos largos, e sendo usados tanto pro bem quanto pro mal, esse tão temido futuro distópico talvez esteja mais próximo do que imaginamos.
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