'Para Onde Voam as Feiticeiras' : Doc LGBT é manifesto a favor da liberdade de se exprimir pela arte | 2023
NOTA 9.0
Por Rogério Machado
A canção de Caio Prado que viralizou anos atrás através do trio musical “Não Recomendados”, cujo direcionamento é quebrar as normas de gênero com músicas e performances provocativas, é um hino LGBT contra os padrões impostos pela sociedade que aparece por entre as performances de 'Para Onde Voam as Feiticeiras' é o casamento perfeito entre argumento, imagem e trilha. O documentário manifesto, que depois de passar estrelado em inúmeros festivais, finalmente chega ao circuito comercial brasileiro.
O longa sob a direção de Beto Amaral, Carla Caffé e Eliana Caffé traz encenações e improvisos de um grupo de artistas pelas ruas do centro da cidade de São Paulo. A experiência proposta torna visível a persistência de preconceitos arcaicos de gênero e raça arragaidos no imaginário comum. No centro desta narrativa polifônica está a importância da resistência política através das alianças de luta comum entre coletivos LGBTQIAP+, da luta antirracista ou em prol do movimento indígena e dos trabalhadores sem teto.
Esse híbrido de espetáculo teatral, musical, documentário e manifesto político também tem como coadjuvantes os transeuntes de uma cidade nervosa como São Paulo por onde passa todo tipo de gente, como pessoas em situação de rua, vendedores ambulantes e missionários evangélicos pregando a Bíblia. Esses 'coadjuvantes' serão os fomentadores do debate/embate de 'Para Onde Voam as Feiticeiras', que dá voz a essas minorias e propõe uma conversa séria sim, mas também repleta de cor e humor. A censura no entorno vem de todas as formas e não só evocam o debate sadio em alguns momentos, como também episódios de confronto, assim como é a realidade de quem enfrenta as ruas todos os dias.
Ao abordar a causa dos povos originários, o longa também lança mão de flagras e reportagens de apropriação de terras por homens poderosos, tornando o material ainda mais rico e lúcido em suas proposições. Ainda sobra um espaço para a pauta religião x homofobia, onde o Pastor Henrique Vieira (hoje deputado Federal) em uma pequena participação debate com outros cristãos divergentes da sua visão sobre o acolhimento de LGBTs nas igrejas evangélicas.
Coincidência ou não, 'Para Onde Voam as Feiticeiras', que conta ainda com personalidades como a filósofa Judith Butler e a deputada federal Erika Hilton, só ganhou as telas após o período nefasto de negacionismo e opressão às minorias. Que a intolerância e a censura, assim como as feiticeiras, voem para bem longe de todos nós. Taí uma estreia mais que oportuna.
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