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Festival do Rio: 'All Of Us Strangers' | 2023

Baseado em livro de Taichi Yamada, filme é um sensível conto fantástico 

Por Rogério Machado


A dor do luto vez por outra é revisitada no cinema. Entre tantas formas de se falar sobre o tema, a escolha aqui é inserir bem no meio desse buraco no peito um romance inesperado quando nada parece ser favorável. Ainda sem título em português, o roteiro de 'All Of Us Strangers' (em tradução livre algo como Somos Todos Estranhos)  foi escrito por Andrew Haigh,  muito conhecido por suas contribuições para o clássico gay contemporâneo 'Weekend' (2011), o conto de amadurecimento 'A Rota Selvagem' (2018) e a minissérie da BBC 'Águas do Norte'. Embora ache que o filme seja muito mais do que um romance gay, pelos trabalhos anteriores do cineasta era previsto que esse projeto esbarrasse na temática. 


Na história seremos introduzidos a Adam (Andrew Scott) que certa noite, em seu prédio quase vazio em Londres, tem um encontro casual com um vizinho misterioso, Harry (Paul Mescal), que muda totalmente o ritmo de sua vida cotidiana. À medida que um relacionamento se desenvolve entre eles, Adam vê crescer as memórias do passado e se vê atraído de volta à cidade pacata onde cresceu e à casa de sua infância onde seus pais (Claire Foy e Jamie Bell) parecem estar morando, exatamente como estavam no dia em que morreram há 30 anos.

Eu confesso que mesmo sendo aficionado por cinema, tenho reservas em assistir a trailers e ter informações prévias sobre qualquer projeto, e aqui isso é providencial, pois é a maneira como as peças desse xadrez são dispostas na narrativa é que dão o impacto que sentimos e não necessariamente o fator surpresa.  Nesse filme em específico, a diferença é gritante, pois o primeiro ato culmina numa revelação que devia ser chocante para a audiência – e o próprio Haigh parece estruturar o seu argumento de forma que os espetadores possam genuinamente sentir a mesma, mesmo que esse argumento já apareça na premissa.

Ainda que saibamos que as reuniões e os papos com os pais estejam somente na cabeça de Adam, há uma clima de mistério e fantasia, talvez produzidos pela trilha sonora um tanto etérea. Desses encontros saem diálogos profundos que enquanto voltam ao passado também produzem cura por toda uma vida solitária vivida. Já o arco que envolve Harry é menos cativante, mas a relação amorosa não deixa de ser um componente crucial para uma compreensão mais completa dos sentimentos do protagonista. É bem verdade que 'All Of Us Strangers' toca muito mais pelo que deixa em silêncio do que pelo que diz. O longa tem uma queda de ritmo quando investe nas viagens de álccol e drogas de Adam, mas que não invalidam a beleza por tratar tantos temas dolorosos de modo delicado e envolvente. 








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