'Nostalgia' : longa italiano emociona e faz refletir sobre ressentimentos do passado | 2023

NOTA 7.5

Por Marcello Azolino @pílulasdecinema

Muso atual do cinema italiano, o ator Pierfrancesco Favino, visto recentemente em 'O Colibri' (2022), arrasa em sua interpretação como o protagonista Felice Lasco, um cinquentão originário de Nápoles que se mudou há vários anos para o Cairo, no Egito, deixando para trás sua origem representada por sua mãe idosa Teresa (Aurora Quattrocchi) e seu amigo de infância Oreste (Tommaso Ragno).

O filme pode ser dividido em duas fases: a parte inicial em que Lasco retorna 40 anos depois à sua cidade natal em busca de uma reparação familiar ao encontrar sua mãe já nos últimos dias de vida e morando em condições precárias em uma espécie de cortiço. A relação amorosa e de cumplicidade que Felice expressa nesta parte inicial da obra comove e constrói elementos importantes da personalidade do protagonista. Já o bloco seguinte foca na redenção que Felice busca ao procurar seu amigo Oreste, um indivíduo desprezível que se tornou temido por todos e líder de uma facção criminosa de Nápoles.

Felice encontra auxílio do Padre da região, Luigi Rega, interpretado com vigor e pulso pelo ator Francesco Di Leva. O vigário é o responsável por articular os encontros que Felice deve ter para encontrar seu antigo camarada e permitir seu acerto de contas com o passado. Daí o roteiro vira uma montanha russa de emoções com cenas tocantes entre o padre e Felice, bem como uma seção desconcertante do filme que sumariza o turbilhão de sentimentos que rondam as vidas do herói da obra e o antagonista, Oreste.

'Nostalgia' é drama puro, daqueles de construir de forma sólida relações humanas críveis entre os personagens até chegar ao clímax, que é de cortar o coração.  Dirigido e roteirizado pelo napolitano Mario Martone, trata-se de uma adaptação cinematográfica do último livro do escritor Ermanno Rea, que morreu aos 89 anos em 2016.

É sem dúvida um dos dramas mais contundentes do ano e promove uma explosão de reflexões sobre passado e presente capitaneados pela atuação sensível e marcante de Pierfrancesco Favino em uma Nápoles suja, decadente e violenta.