'A Menina Que Matou os Pais: A Confissão' : terceiro longa sobre Caso von Richthofen infringe os artigos da cartilha do thriller investigativo | 2023
NOTA 2.0
Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme
Na esteira da onda de projetos voltados para reconstituição de crimes que chocaram o Brasil, a dupla de filmes 'A Menina Que Matou os Pais' e 'O Menino Que Matou Meus Pais' atingiu um considerável sucesso, apesar de toda a reconfiguração feita em sua estratégia de lançamento (de modo simultâneo e direto no streaming) devido ao fechamento das salas de cinema em período pandêmico e do pouco entusiasmo por grande parte da crítica. Mas como o que mantém a roda girando é recepção do público, não é de se estranhar a chegada de um terceiro capítulo, “A Confissão”, para arrematar as múltiplas perspectivas propostas, juntando aos autos ficcionais a versão da polícia.
Se os dois longas anteriores partiam dos depoimentos dos réus e, através de flashbacks no pior estilo Linha Direta que nos faziam enxergar as tentativas dos envolvidos em culpabilizar uns aos outros, o terceiro tomo se veste de thriller investigativo para mostrar como os agentes da lei responsáveis pelo caso chegaram à conclusão de quem havia assassinado brutalmente Manfred e Marísia von Richthofen. Não à toa, a delegada vivida por Bárbara Colen se torna tão protagonista quanto os criminosos interpretados por Carla Diaz, Leonardo Bittencourt e Allan de Souza Lima. Quase como num CSI Campo Belo, observamos a chegada à cena do crime, as primeiras declarações, os olhares desconfiados, as impressões iniciais de detetives e legistas (com direito à pérola “O corpo fala, doutora.”) e, claro, vários interrogatórios.
Contudo, a opção por trabalhar com a cartilha do thriller investigativo acarreta alguns problemas ao roteiro de Ilana Casoy e Raphael Montes. O primeiro deles é que, por se tratar de um crime bastante difundido pela mídia, poucos elementos novos surgem para surpreender o espectador. Todos já sabem, por exemplo, da extrema frieza demonstrada por Suzane ao matar os pais e nos dias subsequentes ao ocorrido, algo que, inclusive, foi determinante para que ela passasse de vítima à suspeita. Além disso, nesse tipo de narrativa, o que é fundamental para a manutenção da atenção do espectador é o confronto de inteligências, quando fica nítido que capturar o assassino não será uma tarefa fácil devido à astúcia com a qual os procurados encobrem seus rastros. O que ocorre aqui é justamente o contrário, não sendo necessário que nenhum dos investigadores seja alguém da linhagem de um Hercule Poirot, famoso detetive criado por Agatha Christie, para observar os vacilos cometidos pelos envolvidos.
Com isso, restaria saber como a direção conduziria tais escolhas e que estratégias narrativas/estéticas seriam utilizadas para que a história contada permanecesse minimamente atraente, e a resposta não é nada positiva. Já nos primeiros minutos, Maurício Eça deixa evidente, a exemplo do que acontecera nos longas anteriores, a pobreza de seu repertório ao lançar mão de uma mise-en-scène semelhante a de qualquer enlatado norte-americano da primeira década dos anos 2000. Junte-se a isso uma montagem bastante afetada, repleta de tiques bem mais nervosos do que enervantes e atuações que trafegam entre o protocolar (como no caso dos geralmente ótimos Bárbara Colen e Augusto Madeira) e o caricato (Carla Diaz fazendo a dissimulada não convenceria uma criança de cinco anos) e o que temos é uma obra que, assim como seus dois cúmplices, infringe vários códigos da legislação fílmica sobre a qual se estrutura. A pena quem cumpre é o espectador por longos 98 minutos.
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