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'Clube da Luta para Meninas' : com explosão de humor físico, longa utiliza a sátira como arma para desvelar questões sociais | 2023

NOTA 8.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 


A comédia sempre se desdobrou em diversas facetas, e o exagero é uma delas. Embora a virada do século tenha popularizado o "besteirol" com sucessos adolescentes como "American Pie" e "Superbad", os anos 80 já apresentavam algo semelhante, como em "A Vingança dos Nerds", um fenômeno de 6 mil dólares de orçamento que rendeu mais de 60 milhões em receita, garantindo sequências até os anos 90. Dado o contexto histórico, essas narrativas eram predominantemente masculinas, marcadas por uma visão hipersexualizada dos corpos femininos. Em "Clube da Luta para Meninas", Emma Seligman dialoga com essa tradição, mas a subverte de maneira brilhante e bem-humorada, desafiando as lógicas patriarcais e misóginas que prevalecem até hoje. 

Na trama acompanhamos PJ (Rachel Sennott) e Josie (Ayo Edebiri), duas adolescentes que anseiam perder a virgindade e para isso criam um clube de autodefesa para mulheres como forma de chamar a atenção das líderes de torcida por quem são apaixonadas. O plano funciona e o clube ganha popularidade, fazendo com que a dupla busque uma saída antes que seu plano seja exposto. 

A talentosa cineasta canadense Emma Seligman, aos 28 anos, surpreende novamente com seu segundo projeto como diretora, consolidando seu espaço após o notável "Shiva Baby", lançado em 2021. Enquanto ambos os filmes tenham Rachel Sennott como protagonista, as semelhanças se encerram aí. Se no primeiro trabalho Seligman explorou a melancolia e um humor mais ácido, em "Clube da Luta para Meninas" ela revela exatamente o oposto, destacando a impressionante versatilidade tanto da cineasta quanto de sua talentosa atriz de confiança. 

O filme abraça de forma objetiva uma perspectiva política clara e não compromete a mensagem tentando velá-la, muito pelo contrário. Tudo que é dito apresenta uma crítica afiada, utilizando o posicionamento feminista para fazer chacota do protagonismo machista que esse mesmo tipo de filme representava até então. A estética também remete esses tempos, uma escolha criativa deliberada que, em determinado momento, torna-se parte integrante da própria piada. No âmbito da comédia, o filme mantém-se firme, não cedendo ao drama e preservando seu senso de humor escrachado até o fim. 

Porém, se a habilidosa direção por trás das câmeras merece destaque, também é digno de nota o desempenho do elenco, a começar pela talentosa Rachel Sennott. Sennott tem escolhido papéis interessantes e vem construindo uma carreira sólida na indústria. Ao lado dela, Ayo Edebiri, jovem comediante que brilha como atriz na série "The Bear", é uma adição destacada. Vale mencionar a conexão prévia entre Edebiri, Sennott e Seligman, uma vez que estudaram juntas na Universidade de Nova York. A química e entrosamento entre elas, somados ao carisma do trio, conferem ao filme um atrativo adicional. 

Disponível no catálogo do Prime Video, o filme proporciona uma experiência provocativa e inteligente, demonstrando que é possível abordar temáticas de profunda densidade sem perder a leveza. 









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