Festival Varilux de Cinema Francês : 'Meu Novo Brinquedo' | 2023
NOTA 7.0
Remake traz sensação de déjà vu, mas diverte
Por Karina Massud @cinemassud
Uma das memórias mais alegres da minha infância é o filme “O Brinquedo”, longa de 1982 estrelado pelo saudoso comediante Richard Pryor, então no auge da carreira, que com seu talento gigantesco fazia rir com caras, bocas e trejeitos sutis no papel do homem que vira o brinquedo de uma criança rica e mimada. Somente anos mais tarde, já uma cinéfila mais atenta, vim a descobrir que tratava-se de um remake hollywoodiano de um filme francês homônimo de 1976, “Le Jouet” (“Malucos à Solta” no horrendo título nacional). Pois eis que resolveram fazer mais um remake dessa história, o que eu acho válido, pois o enredo é ótimo e dá margem a inúmeras discussões, além de modernizar a trama com elementos atuais como as redes sociais e a ânsia por curtidas e inscritos no Youtube.
Em “Meu Novo Brinquedo”, filme exibido no Festival Varilux de Cinema Francês de 2023, conhecemos Sami, um camelô que, depois de falir com a venda do bule de dois bicos, vai trabalhar de vigia na loja de departamentos do homem mais rico da França. Alexandre, o filho do bilionário, pede Sami de presente de aniversário; ele aceita pois o dinheiro será sua salvação e é então levado embrulhado numa caixa de presente.
Sami é vivido pelo comediante francês Jamel Debbouze, que carrega o filme nas costas com seu carisma e humor que lembram Renato Aragão como Didi Mocó. Ele é o sujeito pobre, simples, às vezes malandro mas sempre de bom coração, o homem do povo que todo mundo ama e ri das suas palhaçadas circenses. Ele é feito de gato e sapato pelo mini-tirano cruel que o humilha e ainda é incentivado pelo pai que, impossibilitado de lhe dar afeto e atenção, cede a todos os caprichos surreais do filho.
O diretor James Huth joga uma visão simplista sobre a luta de classes e o massacre capitalista contra o proletariado: os ricos são frios e desalmados e só visam mais dinheiro a qualquer custo; e os pobres são felizes apesar do pouco que tem. Há a demonização do dinheiro e a visão de que “dinheiro não traz felicidade”, o que é uma grande bobagem. Por outro lado, o filme romantiza a pobreza e não pondera que dinheiro não compra tempo, amigos e amor verdadeiro, isso é fato; porém compra todo o resto, conforto, diversão e tudo para uma ótima qualidade de vida.
O saldo de “Meu Novo Brinquedo” é que os ricos tem mais a aprender com os pobres do que o contrário, numa trama que, apesar dessa abordagem superficial do abismo entre as classes sociais, diverte com as sequências de humor negro dessa história inusitada.
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