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Festival Varilux de Cinema Francês: 'Maestro(s)' | 2023

NOTA 6.0

Com harmonia dissonante, longa orquestra tensões familiares em trama cheia de sutilezas 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 


Aqueles que julgam os membros da "elite cultural" apenas por sua elegância estão enganados, pois por trás da fachada de sofisticação, esconde-se uma vida repleta de conflitos. Embora o cinema frequentemente desvende essas falsas aparências, ainda são poucos os filmes que exploram verdadeiramente esse cenário cultural. Recentemente, destaca-se "Tár" (2022), uma obra que brilha pela excepcional atuação de Cate Blanchett, oferecendo um retrato impactante de um gênio disfuncional repleto de contradições. Em "Maestro(s)", o diretor Bruno Chiche opta por uma abordagem menos densa, mas ainda assim preserva nuances na narrativa.  

Na Trama, acompanhamos Denis Dumar (Yvan Attal), um maestro de renome recentemente laureado com o prestigioso prêmio "Victoires de la Musique Classique". Apesar de uma carreira brilhante, Denis tem dificuldades em lidar com a ausência de apoio do pai, François (Pierre Arditi), que por sua vez também possui uma carreira notável na música. Curiosamente, François parece nutrir ressentimentos em relação ao sucesso do filho, desencadeando uma rivalidade familiar que se intensifica. O clímax se desenha quando François recebe um convite para reger a orquestra do Teatro Scala de Milão, uma das instituições mais prestigiadas do mundo. Contudo, a tensão atinge seu ápice quando Denis descobre que, na realidade, o convite é destinado a ele e não a seu pai. 

É crucial destacar inicialmente que o título "Maestro(s)" aponta para um foco bastante específico. Embora a dupla central seja o epicentro das discussões, é importante notar que ambos estão imersos em uma rede de apoio que, apesar de intrigante em sua superfície, carece de desenvolvimento substancial, sendo todos em volta, relegados a meras notas de rodapé. A falta de atenção à periferia da trama poderia, em teoria, ampliar a visão sobre o núcleo central, mas em certos aspectos, o filme deixa uma sensação de incompletude em algumas problemáticas abordadas. O cerne da narrativa permanece concentrado na relação entre pai e filho, um enfoque que os experientes atores Yvan Attal e Pierre Arditi desempenham com maestria.  

É intrigante observar que os momentos de maior tensão não se desdobram em conflitos épicos envoltos em lágrimas e lamentações. Uma característica marcante compartilhada por pai e filho, além do ressentimento palpável, é a maneira profunda como reprimem suas dores pessoais, expressando-as por meio de microagressões. Essas manifestações podem ocorrer em olhares penetrantes, palavras não ditas ou na ausência em momentos cruciais. Um exemplo logo na sequência inicial do filme, é visto quando Denis recebe o troféu pela sua conquista. No momento dos agradecimentos, uma tomada da plateia destaca a cadeira vazia ao lado de sua mãe. Uma abordagem mais contida que confere ao filme um teor emocional, onde as tensões se desenrolam de maneira mais sutil.  

Ao longo de toda a projeção, o filme vai adquirindo contornos mais convencionais, diminuindo gradualmente a temperatura e assumindo uma atmosfera mais amena. No entanto, essa mudança de curso não acontece sem seus próprios incômodos, que, apesar de apenas arranharem a superfície, proporcionam um realismo capaz de envolver e cativar o espectador do início ao fim.  






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