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'Folhas de Outono' : solidão, ironia e amor à moda finlandesa dão o tom em novo filme de Aki Kaurismäki | 2023

NOTA 10 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 


Aki Kaurismäki, renomado diretor, produtor e roteirista finlandês, é conhecido por seu estilo marcante, caracterizado por uma mistura de minimalismo, melancolia e humor seco impregnado de humanismo. Em sua filmografia, temas como solidão, marginalização social, desigualdade e a complexidade da condição humana são recorrentes. Reconhecido especialmente pela trilogia do proletariado, composta por "Sombras no Paraíso", "Ariel" e "A Garota da Fábrica de Fósforos", o cineasta revela sua veia crítica de maneira explícita, embora esse viés permeie toda a sua obra. Em "Folhas de Outono", mantendo sua preferência por personagens outsiders, somos levados a uma atmosfera fria e inexpressiva, característica do cenário finlandês, porém, com o toque especial a la Kaurismäki. 

Na trama acompanhamos Ansa (Alma Pöysti) e Holappa (Jussi Vatanen), duas almas solitárias que se conhecem por acaso em um bar de karaokê. Contudo, o percurso dos protagonistas é permeado por inúmeros obstáculos, e entre encontros e desencontros, eles se empenham em construir uma conexão em meio às complexidades e angústias da vida cotidiana. 

O olhar que lançamos sobre outras culturas muitas vezes carrega inclinações naturais e, dependendo da distância, esse abismo pode criar um afastamento que dificulta qualquer forma de identificação. No entanto, ousando parecer otimista sem soar irrealista, a arte talvez atue como uma ponte, proporcionando encontros com novos hábitos e estilos de vida. Em "Folhas de Outono", mesmo imerso em certo exagero característico do diretor, a percepção do cotidiano dos personagens pode sugerir uma falta de tempero na forma nórdica de viver, especialmente para nós, latinos acostumados ao melodrama e às narrativas passionais. Entretanto o cinema emerge como um veículo para dissipar essa estranheza, introduzindo novos olhares e enriquecendo nosso repertório. 

Derrubadas as barreiras culturais, "Folhas de Outono" revela não apenas uma estrutura singular, mas também soluções visuais surpreendentemente inventivas. Um exemplo notável ocorre quando um personagem espera alguém diante de um cinema. Em meros segundos, testemunhamos sua expressão ansiosa, as luzes da fachada se extinguindo, e sua partida. Na sequência, a pessoa aguardada finalmente chega, observa o lugar onde o outro estava, depara-se com vários cigarros no chão e, sem palavras, também se retira. Essa breve sequência encapsula uma narrativa rica, revelando que o primeiro esperava há muito tempo, e a segunda, percebe isso. A habilidade ímpar do diretor em transmitir tantos detalhes em tão pouco tempo, sem recorrer a diálogos, evidencia a maestria com que Kaurismäki domina a linguagem cinematográfica, destacando que, no cinema, a imagem é sua principal ferramenta. 

Vencedor do Grande Prêmio do Júri deste ano, conquista já alcançada pelo diretor em 2011, "Folhas de Outono" é um exemplar do cinema com "C" maiúsculo. Embora traga uma história profundamente enraizada na Finlândia, suas temáticas são universais, transcendendo fronteiras geográficas para tocar o espectador em níveis emocionais e reflexivos, reforçando o poder transformador e unificador da sétima arte. 






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