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'O Sequestro do Voo 375' : longa de Marcus Baldini promove altas doses de tensão em contexto político | 2023

NOTA 8.0 

Por Rogério Machado 


Antes de falar do filme em questão, vamos falar um pouco do 'complexo de vira lata' que nós brasileiros já ouvimos falar em algum momento da vida. A expressão e conceito criada pelo dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues (a qual originalmente se referia ao trauma sofrido pelos brasileiros em 1950, quando a Seleção Brasileira foi derrotada pela Seleção Uruguaia de Futebol na final da Copa do Mundo no Maracanã), habitualmente é usada quando achamos que tudo que vem do Brasil é menor do que é feito lá fora. O  Cinema Brasileiro é um dos que mais sofrem comparações principalmente quando pensamos em filmes de ação. Mas será que brasileiro não tem mesmo capacidade de produzir um grande blockbuster cheio de efeitos especiais convincentes e combinando tudo de melhor que o cinemão hollywoodiano tem? 

Em 2012, quando assisti 'Dois Coelhos', do incrível Afonso Poyart, tive certeza de que somos capazes de filmes com efeitos especiais de primeira numa trama engenhosa construída com a mesma excelência. Com a chegada de 'O Sequestro do Voo 375' tive dúvidas quando soube da ousadia do projeto, porém mais um vez fui surpreendido com a grandeza da produção e o cuidado em levar o público pra dentro desse avião em rota kamikaze. 

Marcus Baldini ('Uma Quase Dupla', 'Bruna Surfistinha') é o responsável por trazer essa trama baseada na história real de um caso que chocou o país na década de 80 até nós.  O longa se passa no período do Governo Sarney, em 1988, enquanto o Brasil enfrentava uma série de dificuldades econômicas e financeiras, logo após a queda da Ditadura Militar. No meio do caos e da revolta, surge Nonato (Jorge Paz), um homem de origem simples que está passando por muitas dificuldades após a perda do emprego. Inconformado com a sua situação - e, acima de tudo, a de seu país como um tudo -, Nonato decide protestar contra o Governo de uma forma dramática: sequestrar o voo 375, da Vasp, com mais de cem passageiros a bordo, ordenando ao comandante Murilo (Danilo Grangheia) que jogue o avião em cima do Palácio do Planalto. Para evitar uma tragédia, o piloto acaba tendo uma ideia ousada: executar manobras que jamais haviam sido tentadas com um avião daquele porte. 

Aqui, Baldini consegue o grande feito de aliar uma trama altamente política, que coloca em voga o velho e desgastante debate da luta de braço entre governo e Forças Armadas, com tudo de mais atraente que um bom thriller possui, que é manter altos níveis de tensão (non-stop, diga-se de passagem) com o acabamento de efeitos especiais altamente convincentes, que só não chegam a ser perfeitos por alguns deslizes no CGI, que claro, nada comprometem o nosso envolvimento com o horror vivido durante aquele voo. 

'O Sequestro do Voo 375' é mais uma prova que o cinema nacional pode apostar em qualquer gênero e tem potencial para desenvolver com excelência mesmo sequências com muita ação e carregadas de efeitos especais. É claro que ficamos atrelados ao fator orçamento, algo que diretamente nos distancia das grandes produções de Hollywood, e tendo ciência disso, fica ainda mais saboroso ver como nosso cinema transpõe barreiras e voa por cima dos impedimentos e  das dificuldades. 





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