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'Os Três Mosqueteiros: Milady' : segunda parte mergulha na trama política sem abrir mão de boas batalhas | 2023

NOTA 8.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 


A prática não convencional de dividir filmes em partes tornou-se bastante comum este ano, com importantes franquias como 'Missão Impossível' e 'Homem-Aranha' adotando essa estratégia. Diferentemente das separações tradicionais, como nas sagas 'Senhor dos Anéis' ou 'De Volta para o Futuro', essa abordagem assemelha-se mais à estrutura própria da TV, mais propensas a encaixar ganchos intrigantes, uma vez que a maioria se encerra em um clímax. A avaliação das vantagens e desvantagens dessa escolha criativa em "Os Três Mosqueteiros" são inerentemente subjetivas e dependerá da perspectiva de cada espectador. No entanto, ao considerar esta obra monumental da literatura francesa, que no original se estende por quase 800 páginas repletas de ação e intricadas tramas políticas, a escolha por uma narrativa mais cadenciada parece perfeitamente sensata. 

Na trama acompanhamos D'Artagnan (François Civil), que após o sequestro de Constance (Lyna Khoudri) se vê compelido a forjar uma aliança improvável com a enigmática Milady (Eva Green). Ao lado dos leais companheiros Athos (Vincent Cassel), Porthos (Pio Marmaï) e Aramis (Romain Duris), o jovem mosqueteiro irá se deparar com segredos obscuros capazes de abalar antigas alianças e desencadear uma iminente guerra. 

É paradoxal que, em tempos de extrema polarização, onde todos têm uma opinião sobre tudo, as tramas políticas careçam de apelo popular. Isso pode derivar da percepção equivocada do cinema como uma forma de arte escapista dedicada à diversão simples e direta. Contudo, "Os Três Mosqueteiros: Milady" destaca-se ao mesclar habilmente os jogos de poder da França do século XVII com um entretenimento bem característico dos filmes mais populares. O diretor Martin Bourboulon realiza essa proeza não ao simplificar a narrativa ou oferecer uma releitura descomplicada, mas ao infundir um humor sutil nos diálogos e criar batalhas empolgantes. Vale ressaltar que os combates são marcados por pouquíssimos cortes, aliados a uma coreografia menos ensaiada e mais crua, conferindo uma sensação de realidade e impacto a cada golpe. 

As atuações mantêm o elevado padrão estabelecido na primeira parte; entretanto, nesta sequência, como sugere o próprio título, o foco direciona-se mais intensamente para o arco da misteriosa Milady, brilhantemente interpretada pela bela e talentosa Eva Green. Enquanto os demais personagens, especialmente o grupo de mosqueteiros, passam considerável tempo separados, ao reunirem-se, a química permanece inabalável, com um notável senso de união que faz toda a diferença, contribuindo para a coesão do elenco. 

Sugerir que uma boa adaptação só pode emergir do país de origem do material base pode parecer preciosismo considerando exemplos como "Ran" e "Trono Manchado de Sangue", esplêndidas adaptações japonesas das obras do inglês William Shakespeare. No entanto, "Os Três Mosqueteiros" narram uma história profundamente enraizada na sociedade francesa, tornando desafiador imaginar que esse diálogo com o público pudesse ser melhor desenvolvido por mãos estrangeiras. Infelizmente, para sustentar esse ponto, exemplos de fracassos não faltam. 






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